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quarta-feira, 6 de julho de 2011

As dificuldades enfrentadas na rotina policial

As dificuldades enfrentadas na rotina policial
Alex Dalton e José Ricardo S. Monteiro


Naquela tarde, o sol estava a pino; o calor, insuportável. Eu era o patrulheiro de uma guarnição tática. Nossa barca patrulhava a Favela Pedreira, em Matozinhos. A viatura se deslocava bem devagar, espremida numa viela; os retrovisores quase tocavam nos barracos.

De repente, a uns vinte metros do lado esquerdo da viatura, vejo um indivíduo correndo. A mente do policial já está condicionada: se correu, é suspeito. Digo ao Cabo Luciano:

- Correu, correu! Pára! Um cara aqui ao lado saiu vazado quando viu a viatura.

Imediatamente a viatura foi parada. Desembarcamos defronte a um barraco, onde, na entrada, encontrava-se uma menina de cerca de nove anos. Ela nos olhou assustada. Ao ser questionada, logo entregou que fora o pai dela quem havia evadido.

Sem demora, iniciamos as buscas num terreno baldio adjacente ao barraco. Cinco minutos e nada. O sargento Augusto, comandante da guarnição, começou a gritar, blefando e fazendo pressão psicológica. Nada. De súbito, quando estávamos quase desistindo, o Sargento viu o indivíduo deitado no chão. Imediatamente procedemos a abordagem verbal, determinando que ele colocasse as mãos na cabeça, se levantasse... Feita a busca pessoal, nenhum objeto ou substância ilícita foi encontrada.

Ainda no terreno baldio, no meio de um pequeno matagal, o indivíduo repetia e repetia que estava ali havia alguns minutos, vigiando uma galinha chocar. O Sargento Augusto insistiu em indagar por que ele havia corrido. O suspeito, um senhor de aproximadamente 60 anos, rendeu-se aos questionamentos e assumiu que apenas havia se assustado ao ver a viatura. Ora, ninguém foge da Polícia sem motivo. Era certo que ele estava devendo.

Fomos à sua casa. Se do lado de fora o barraco sem reboco e sem janela já não era bonito, no interior o cenário era ainda mais desolador. Apenas um cômodo, piso de cimento grosso cheio de buracos e todo sujo, roupas espalhadas pela casa, comida azeda no fogão e aquela menina de cabelos despenteados que não parava de chorar.

Reviramos a casa e nada. Alguma coisa estava errada. Ninguém corre à toa. O cara só podia estar pedido. O Sargento Augusto perguntou ao suspeito se ele era foragido. Ele tremeu. Tentou se esquivar da resposta, mas em seu semblante podíamos ver que fora esse o motivo de ele ter corrido. Para confirmar, o Sargento consultou o prontuário criminal do indivíduo no COPOM. O despachante pediu para repetir o nome. A resposta veio confirmando o tirocínio policial. O sujeito era fugitivo da cadeia pública da cidade, onde cumpria pena por homicídio culposo.

O indivíduo não parecia ser perigoso, pelo contrário. Perguntei-lhe sobre o motivo de ele ter sido condenado e ter fugido da prisão. Assim ele me respondeu:

- Foi uma tremenda falta de sorte. Eu estava na Igreja com minha esposa, que na época estava grávida dessa menina. Chegou um cidadão embriagado com um pedaço de pau na mão e começou a xingar todo mundo, reclamando do som alto. Minha esposa foi conversar com ele, pedindo calma, mas ele a tratou com falta de respeito e tentou agredi-la. Eu não aceitei, nós brigamos e eu tomei o pedaço de pau e dei na cabeça dele. Por azar, ele tinha platina na cabeça e morreu. Eu fui preso. Minha esposa morreu no parto da menina. Quando o juiz me deu benefício do dia das mães, eu não voltei pra cadeia. Tinha que cuidar da menina e dos outros dois que ainda estavam pequenos. Tem mais de oito anos que eu tava foragido. Agora os senhores me pegaram. Eu sou trabalhador, faço tudo pelos meus filhos. Minha filha mais velha tem 16 anos e começou a trabalhar ontem em um salão de beleza pra me ajudar a cuidar dessa menina e do outro menino. O senhor tá vendo a casa assim, mas é porque eu não tenho tempo. Sou pedreiro, trabalho o dia inteiro. Meus vizinhos tomam conta da menina quando tô trabalhando. Eu sou trabalhor, Seu Polícia!

O indivíduo realmente parecia trabalhador. Inclusive os vizinhos foram unânimes em dizer que ele só vivia para os filhos, que era um bom pedreiro e que era honesto. Antes de o colocarmos dentro da viatura, ele tirou uma nota de cinquenta reais e disse para a filha:

- Toma. É o dinheiro que o pai tem.

A garotinha se pôs aos prantos, começou a me puxar e disse:

- Por favor, moço, não leva meu pai, não. Eu já perdi minha mãe; como que vou ficar sem meu pai agora.

Meu coração quase partiu; me deu um nó na garganta. Mas não tínhamos escolha e, mesmo se tivéssemos, não sei...

Em seguida, nos dirigimos à Delegacia, onde o foragido voltou para trás das grades. Talvez aquele não fosse o seu lugar. Tudo indicava que ele nunca mais iria cometer nenhum crime. Mas não cabe a nós, policiais militares, fazermos julgamentos. Apenas cumprimos a letra fria da lei.

Às vezes me recordo dessa ocorrência e penso se a Justiça não é falha, se a Lei não é fria demais. Quem errou deve ser punido, mas vendo tantos bandidos se beneficiando de lacunas legais, reflito se o certo seria aquele homem ter voltado para a prisão. Reflito sobre o que representou e representará para a menina, daquele momento em diante, o “tom caqui” da nossa farda, já que, apesar da obrigação de cumprir o nosso dever, talvez retiramos dela a única chance de chegar a algum objetivo na vida e quiçá de matar a sua fome e a dos seus irmãos a partir daquela tarde.


Fim

Artigo recebido por email.

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